Por Henrique Rodrigues
Que o governo de Jair Bolsonaro gosta de contrariar a lógica de coisas óbvias e segue cada dia mais isolado por suas posições que subvertem o bom senso, todo mundo já sabe. Mas a abertura do Plano Decenal de Expansão de Energia para consulta pública nesta segunda-feira (24) surpreendeu a todos com uma ideia que vai na contramão do mundo há pelo menos uma década: a retomada do programa atômico e a construção de novas usinas nucleares.
A intenção é elevar os níveis de energia gerada por esse modelo de 8 para 10 gigawatts nas próximas três décadas, atualmente produzida nas usinas de Angra 1 e 2, enquanto a de número 3 segue eternamente em construção.
“O país é privilegiado também na oferta desse combustível, com grandes reservas de urânio, ambientes territoriais estratégicos para alocação das usinas, bem como domínio completo de toda a tecnologia do ciclo do combustível nuclear, desde a mineração até a montagem do elemento combustível”, diz um trecho do documento.
Numa outra parte, a justificativa é o desenvolvimento da pesquisa científica no setor, embora pareça contraditório com os profundos cortes promovidos nas áreas de Educação e Ciência e Tecnologia pelo atual governo.
“Há de se ressaltar também o quadro técnico de pessoas com experiência de sucesso na operação e manutenção das usinas Angra 1 e 2, bem como centros de ensino e pesquisas na área nuclear”, assina o texto.
Energia nuclear cai em desgraça
Desde o terremoto seguido de tsunami de Sendai, em 2011, no Japão, que danificou a Central Nuclear de Fukushima, provocando um desastre humano e ambiental de dimensões colossais, contido com muita eficiência (e alguma sorte) pelas autoridades e cientistas nipônicos, os programas nucleares vêm sendo reduzidos, substituídos ou abandonados mundo afora. Ali ficaram claros os enormes riscos e o potencial destruidor dessa tecnologia, tida como estratégica em todo mundo após a 2ª Guerra Mundial.
O próprio Japão abandonou seu programa nuclear e aguarda que as usinas envelheçam e sejam gradativamente desativadas com segurança nas próximas décadas, para dar início à construção de uma nova matriz energética para o país. A Alemanha segue no mesmo caminho. Logo após a tragédia de Fukushima avisou que suas centrais atômicas, num futuro próximo, serão coisa do passado, assim como a França, que em ritmo menor desativou sua mais antiga usina.