Por Plinio Teodoro, da Revista Fórum
Em rara entrevista desde que assumiu o Ministério da Educação, em julho deste ano, o pastor santista Milton Ribeiro revela que a ideologia de combate ao “kit gay” e à “mamadeira de piroca” – fake news que impulsionaram a candidatura de Jair Bolsonaro entre o eleitorado conservador nas eleições de 2018 – segue sendo uma das principais diretrizes da pasta.
Na entrevista a Jussara Soares, publicada na edição desta quinta-feira (24) do jornal O Estado de S.Paulo, Ribeiro, que é advogado, teólogo e pastor da Igreja Presbiteriana Jardim de Oração, volta a citar “vídeo que corre na internet das meninas aprendendo a colocar uma camisinha com a boca” – que na verdade foi gravado em uma universidade no interior da Bahia – como exemplo da “erotização das crianças” nas escolas e atribui o “caminho do homossexualismo” a “famílias desajustadas”.
“É claro que é importante mostrar que há tolerância, mas normalizar isso, e achar que está tudo certo, é uma questão de opinião. Acho que o adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo (sic) têm um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe. Vejo menino de 12, 13 anos optando por ser gay, nunca esteve com uma mulher de fato, com um homem de fato e caminhar por aí. São questões de valores e princípios”, diz, ao ser indagado se não seria importante levar a educação sexual para escolas para prevenir a prática de bullying, que leva à depressão.
Antes de falar do “caminho do homossexualismo”, Ribeiro diz que a educação sexual incentiva “adolescentes que estão com os hormônios num top sobre isso”, atacando o que é considerado por grupos cristãos e conservadores como “ideologia de gênero”.
“Está no YouTube, é só procurar [o vídeo em que a professora ensina colocar camisinha com a boca]. E a professora mostrando como é. Dizem que é para proteger gravidez indesejada, mas a verdade é que falar para adolescentes que estão com os hormônios num top sobre isso é o mesma coisa que um incentivo. É importante falar sobre como prevenir uma gravidez, mas não incentivar discussões de gênero. Quando o menino tiver 17, 18 anos, ele vai ter condição de optar. E não é normal. A biologia diz que não é normal a questão de gênero. A opção que você tem como adulto de ser um homossexual, eu respeito, não concordo”, afirmou.
Volta às aulas
Na entrevista, Ribeiro disse que a desigualdade no ambiente educacional “só foi evidenciado pela pandemia, não foi causado pela pandemia” e diz que isso não é “problema do MEC”.
“Esse problema só foi evidenciado pela pandemia, não foi causado pela pandemia. Mas hoje, se você entrar numa escola, mesmo na pública, é um número muito pequeno que não tem o seu celular. É o Estado e o município que têm de cuidar disso aí. Nós não temos recurso para atender. Esse não é um problema do MEC, é um problema do Brasil. Não tem como, vai fazer o quê? É a iniciativa de cada um, de cada escola. Não foi um problema criado por nós. A sociedade brasileira é desigual e não é agora que a gente, por meio do MEC, que vamos conseguir deixar todos iguais”, diz.
Ribeiro ainda se irritou ao ser indgado se o ministério daria alguma orientação sobre o retorno às aulas. “Quem tem jurisdição sobre escolas é Estado e município. Não temos esse tipo de interferência. Se eu começo a falar demais, dizem que estou querendo interferir; se eu fico calado, dizem que se sentem abandonados”.