Exército gastou R$ 6 milhões em simulação de guerra contra a Venezuela na Amazônia

Exercício militar sem precedentes no Brasil envolveu 3,6 mil soldados e teve disparos inéditos de mísseis. Durante a simulação, Mike Pompeo, secretário de Trump, esteve em Roraima e gerou crise diplomática em falar em "tirar" Nicolás Maduro "de lá"

Pela primeira vez, Artilharia do Exército dispara com o Sistema ASTROS em ambiente operacional amazônico - Foto: Divulgação

Por Plinio Teodoro, da Revista Fórum

O Exército brasileiro gastou R$ 6 milhões somente em combustíveis e transporte para simular uma guerra contra a Venezuela na Amazônia em setembro, enquanto o governo Jair Bolsonaro declarou como persona non grata os representantes diplomáticos do governo Nicolás Maduro no país e reconheceu as pessoas indicadas por Juan Guaidó.

Segundo reportagem de Vinicius Sassine na edição do jornal O Globo desta quarta-feira (14), o exercício de guerra foi desenvolvido em um campo de batalha em que soldados do país “Azul” tinham que expulsar invasores do país “vermelho”. As informações sobre a “guerra”, sem precedentes na história do país, foram obtidas via Lei de Acesso à Informação.

“Dentro da situação criada e com os meios adjudicados, foi a primeira vez que ocorreu este tipo de operação”, informou o Exército ao jornal.

A simulação ocorreu entre os dias 8 e 22 de setembro e envolveu 3,6 mil militares nas cidades de Manacapuru, Moura e Novo Airão, no Amazonas.

No dia 18, Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA, fez uma visita a Roraima e, durante encontro com o chanceler brasileiro Ernesto Araújo, gerou uma crise diplomática – e na política interna brasileira – ao dizer “vamos tirá-lo de lá”, em referência ao presidente venezuelano, o que foi atribuído a um erro de tradução. O encontro aconteceu um dia depois que o Itamaraty divulgou nota pregando a “extinção do regime ditatorial de Maduro”.

Segundo informações do próprio Exército brasileiro, “foram empregados diversos meios militares, tais como viaturas, aeronaves (aviões e helicópteros), balsas, embarcações regionais, ferry-boats, peças de artilharia, o sistema de lançamento de foguetes Astros da artilharia do Exército, canhões, metralhadoras, ‘obuseiro’ Oto Melara e morteiros 60, 81 e 120 mm, além de veículos e caminhões especiais”.

O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e o comandante do Exército, Edson Leal Pujol, foram à região do “conflito” no dia 14 de setembro e acompanharam os disparos de mísseis.

Inimigos

Em sua guerra contra o “comunismo”, Jair Bolsonaro foi às redes sociais nesta quarta-feira (14), poucas horas após a divulgação da reportagem, incitar apoiadores contra a Venezuela e também contra a Argentina e Cuba, que são governados pela esquerda.

“Existe um modelo econômico que conseguiu o impossível: Argentina sem carne. Venezuela sem petróleo. Cuba sem açúcar”, escreveu Bolsonaro, com uma foto de um protesto solitário, provavelmente na Argentina.

Uma seguidora, no entanto, ironizou a publicação, comentando: “Brasil sem arroz”. O presidente, então, rebateu a internauta citando um de seus chavões na pandemia: “Fique em casa e a economia a gente vê depois”.

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