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Estudo preliminar aponta que Covid-19 pode causar “curto-circuito” no cérebro

Pesquisa da Unicamp mostra que doença, mesmo em casos mais leves, pode alterar padrão de conectividade funcional do órgão; chefe do grupo de estudo diz que Covid não é “apenas uma gripe”

Representação do Sars-Cov-2, o novo coronavírus (Foto Pixabay)

Dados preliminares de um estudo conduzido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sugerem que a Covid-19 pode alterar o padrão de conectividade funcional do cérebro. Isso causa uma espécie de “curto-circuito” no órgão. E esse efeito é observado mesmo em manifestações mais leves da doença.

As conclusões se baseiam em exames de ressonância magnética funcional (com sequência de repouso) feitos em 86 voluntários que já haviam se curado da infecção havia pelo menos dois meses. Os resultados foram comparados com os exames feitos em 125 pessoas que não tiveram a doença e, para o estudo, serviram como controle.

“No cérebro normal, determinadas áreas estão sincronizadas durante uma atividade, enquanto outras estão em repouso”, disse Clarissa Yasuda, professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM-Unicamp), à Agência Fapesp. “Já no caso desses indivíduos que tiveram Covid-19, notamos uma perda severa da especificidade das redes cerebrais”, continuou ela. A especialista explicou que, nessas pessoas que tinham sido infectadas pelo noo coronavírus, “tudo está conectado ao mesmo tempo e isso provavelmente leva o cérebro a gastar mais energia e trabalhar de forma menos eficiente”.

O estudo ainda está em andamento e o grupo pretende incluir mais participantes. A ideia é acompanhar os desdobramentos cerebrais da infecção pelo Sars-CoV-2 por ao menos três anos.

Hipóteses para a alteração

A professora e pesquisadora disse que ainda não se sabe de que maneira o vírus causa essa alteração na conectividade cerebral. Uma das hipóteses é que a infecção prejudique parte das redes neurais e, para compensar a falha “no sinal”, o cérebro ative outras redes simultaneamente.

Outra hipótese que o grupo da Unicamp estuda é se esse estado de disfunção cerebral tem relação com alguns dos sintomas tardios da Covid-19 relatados por diversos pacientes, como fadiga, sonolência diurna e alterações de memória e concentração.

“Ninguém sabe ao certo de que forma o vírus afeta o cérebro: se é um dano indireto, relacionado à inflamação, ou se está diretamente ligado à infecção das células cerebrais”, afirmou a pesquisadora à Agência Fapesp. “De qualquer forma, os achados são surpreendentes e um pouco assustadores. Creio que já está bem claro que a Covid-19 não se trata apenas de uma gripe.”

Pessoas interessadas em participar do estudo podem entrar em contato com o grupo da Unicamp pelo endereço https://forms.gle/8SoNb3tFqCwpARAo7. Podem participar todas as pessoas que tiveram Covid-19 confirmada por teste de RT-PCR, mesmo que não tenham mais sintomas residuais.

Além de professora da Unicamp, Clarissa faz parte do Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (BRAINN), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Com informações da Agência Fapesp

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