Por Raphael Sanz
No próximo dia 17 de outubro começa a ser julgado no Tribunal de Barcelona, na Espanha, o processo movido pelo Grupo DIS que investiga possível corrupção na transferência de Neymar, do Santos ao clube catalão, em 2013. A empresa agenciou o começo da carreira do jogador e alega ter provas de que a transferência não foi completamente transparente, sobretudo, por conta de um suposto conluio entre as partes para excluí-la dos pagamentos.
A previsão para o encerramento das sessões do julgamento é em 31 de outubro, pouco menos de três semanas antes do início da Copa do Mundo. Caso a decisão final condene o craque, Neymar pode ficar de fora do mundial e inabilitado de jogar na Europa por dois anos. De acordo com reportagem do Estadão, há poucas chances de um acordo e o perdedor poderá recorrer à Suprema Corte espanhola.
Entenda o caso
A relação entre o jogador e o Grupo DIS começou em 2009, quando os empresários compraram 40% dos direitos econômicos do futuro craque por R$ 5 milhões antes mesmo que estreasse como profissional. Os outro 60% seriam do Santos Futebol Clube, clube que projetou Neymar e pelo qual foi multicampeão, incluindo o título da Copa Libertadores da América de 2011.
No processo que vai a julgamento dentro de um mês, o Grupo DIS acusa o jogador, seus familiares, o Santos e o Barcelona de terem conspirado nas negociações e contratos de transferência a fim de não lhe pagar os valores devidos. Os empresários denunciam possíveis crimes de corrupção e fraude na transferência milionária. Além de uma multa, a lei espanhola prevê, para o caso de condenação do atleta, dois anos de reclusão e inabilitação profissional.
No caso da multa, o Grupo DIS está pedindo 25 milhões de euros de indenização. Sobre a reclusão, o jogador provavelmente não poderá mais visitar o país. Já em relação a inabilitação profissional, o craque pode ficar de fora da Copa do Mundo do Catar, que começa no meio de novembro, e impedido de atuar em todo o território da União Europeia por dois anos. Tal decisão possivelmente estimularia uma volta de Neymar ao futebol brasileiro, uma vez que o atleta conseguiu liminar que impede sua prisão no país.
De acordo com os empresários, nos dias anteriores à final do mundial de clubes de 2011, disputado entre as duas equipes, Neymar já teria recebido 10 milhões de euros como um sinal para preferência em uma futura transferência. O valor correspondia a mais de R$ 30 milhões à época. Em 2013, a família do jogador teria recebido mais 30 milhões de euros por meio da N&N Consultoria – empresa da família que hoje agencia a carreira do jogador. No caso de uma negociação com outro clube, os 40 milhões de euros deveriam ser devolvidos ao clube catalão.
Para o Grupo DIS, essa negociação direta da família com o Barcelona, além de ter servido para sua exclusão nas negociações, ainda eliminou qualquer possibilidade de concorrência e fechou as portas para uma proposta do Real Madrid ao jogador que seria de 55 milhões de euros, superior à do Barcelona.
No final das contas o Santos acabou levando apenas 17 milhões de euros pela transferência e, colocando-se como o grande prejudicado, negociou algumas compensações com o clube catalão. Entre elas, faturou quase 8 milhões de euros em preferências de vendas de algumas promessas (entre elas Gabigol, hoje no Flamengo) que acabaram não se concretizando. Além disso, teria recebido mais 4,5 milhões de euros por conta da não realização de um amistoso contra o clube catalão. Havia dois amistosos marcados entre as agremiações por conta da transferência de Neymar: o primeiro foi vencido por 8 a 0 pelo Barcelona, no Camp Nou, e o segundo foi cancelado e o Santos teria segurado a verba.
E seria justamente nessas negociações de compensação que o grupo de empresários teria descoberto um documento confidencial, que não estaria registrado nas instâncias do clube e “totalmente fora dos padrões de negociação”, no qual Barcelona e Santos teriam acordo em dividir os gastos de possíveis cobranças futuras do Grupo DIS. Para o advogado da empresa, tal documento comprovaria as intenções dos clubes em manter a suposta fraude que envolve o não pagamento dos empresários na transferência. Resta ver o que decidirá o julgamento em pouco mais de um mês.
*Com informações do Estadão.