Início Cultura

Jornalista lança em Santos livro sobre seu primo, torturado e morto pela ditadura militar

“Eu só disse meu nome”, obra do escritor Camilo Vannuchi, será lançada na Livraria Realejo, no bairro do Gonzaga

O autor Camilo Vannuchi - Foto: Divulgação/Prefeitura de Diadema

O jornalista e escritor Camilo Vannuchi lança nesta sexta-feira (3), na Realejo, em Santos, seu mais novo livro: “Eu só disse meu nome”, uma coedição da Editora Discurso Direto e Instituto Vladimir Herzog.

Durante o lançamento, haverá um bate-papo com o autor, com mediação do jornalista Renato Rovai.

A obra é uma biografia do primo de Camilo, Alexandre Vannuchi, preso, torturado e assassinato, em 1973, nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo, pelos órgãos de repressão da ditadura militar (1964-1985).

“À época, Alexandre era um jovem de 22 anos, estudante do quarto ano de geologia, na Universidade de São Paulo (USP), líder estudantil e colaborador da Ação Libertadora Nacional (ALN). Foi preso, torturado e morto no DOI-Codi de São Paulo, em março de 1973”, relatou Camilo, em entrevista ao Fórum Onze e Meia, nesta quinta (2), programa exibido no canal do YouTube da Fórum.

“O livro conta a trajetória, quem ele era e por que ele acabou se tornando uma referência na retomada do movimento estudantil nos anos seguintes”, destacou o autor.

Camilo disse, ainda, que a obra também perpassa sua relação com a tragédia familiar, sob o olhar de uma criança de 10 anos, que tinha um primo que morreu torturado, tema que entrou na família muito cedo.

“O livro mostra como eu lidei com isso até me tornar uma pessoa que foi escrevendo sobre direitos humanos, violações desses direitos, fui membro da Comissão da Verdade de São Paulo. Ou seja, o tema da ditadura se tornou presente também na minha vida”, ressaltou Camilo, que também é professor de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero e secretário de Cultura de Diadema (SP).

O autor de “Eu só disse meu nome” explicou que “quando morreu, Alexandre não era um militante de muito destaque, digamos assim, na hierarquia da ALN e do movimento estudantil”. Seu primo, dentro da faculdade, era o interlocutor com o grupo revolucionário e de orientação ideológica comunista.

“Porém, quando esse cara, que não pegava em armas, que não estava clandestino, que todo mundo conhecia, que todo mundo gostava, é preso, desaparece e morre, veio um susto: pode acontecer com qualquer um. E isso marcou muito”.

Dom Paulo Evaristo Arns, então arcebispo de São Paulo, inclusive, decidiu realizar a missa de sétimo dia, em memória de Alexandre, na Catedral da Sé. O religioso denunciou publicamente a versão falsa de atropelamento, divulgada pela repressão. A homenagem se tornou a primeira grande manifestação popular de repúdio à ditadura e de denúncia da tortura desde o início do governo do general Emílio Garrastazu Médici, o mais truculento daquele período.

Uma das curiosidades do livro, revelada por Camilo, é que a morte de Alexandre foi uma das inspirações da canção emblemática chamada “Cálice”, de autoria de Chico Buarque e Gilberto Gil, em 1973.

Foto: Reprodução

Serviço

Lançamento do livro biográfico “Eu só disse meu nome”.

Autor: Camilo Vannuchi.

Coedição: Editora Discurso Direto e Instituto Vladimir Herzog.

Dia e horário: Sexta-feira (3 de maio), das 18 às 20 horas.

Local: Realejo Livros, à Avenida Marechal Deodoro, 2, Gonzaga, Santos.

Sair da versão mobile