Por Henrique Rodrigues
As duas últimas posses de “imortais” na Academia Brasileira de Letras (ABL) movimentaram a cena cultural do país, com a promessa de tirar a mofada instituição conservadora do limbo em que se encontra há décadas, sobretudo após nomeações de figuras sem expressão no cenário intelectual nacional. A chegada da atriz Fernanda Montenegro, empossada em 25 de março, e do cantor e compositor Gilberto Gil, cuja cerimônia oficial de ingresso ocorreu na última sexta-feira (8), já trouxe novidades, pelo menos no que diz respeito às tradições e ao comportamento.
Fernanda e Gil, para tomarem posse, precisavam mandar confeccionar o famoso e pomposo fardão de cambraia verde escuro, bordado com fios de ouro que desenham ramos de café. O alfaiate oficial da ABL desde 2005, Diógenes Cardoso, cobra a bagatela de R$ 80 mil pela indumentária dos imortais, que por tradição é paga pela prefeitura da cidade onde nasceu o eleito, ou então pelo estado natal do ilustre literato, quando o município de origem é muito pobre.
Os dois novos integrantes da “Casa de Machado de Assis” acharam o valor absurdo e não permitiram que a prefeituras do Rio e de Salvador, locais de nascimento de Fernanda e Gil, respectivamente, custeassem a lendária roupa. Eles foram, então, atrás de outro profissional que fizesse o mesmo trabalho e que cobrasse valores menores, a serem pagos do próprio bolso, sob a alegação de que “não faria sentido onerar o poder público numa época de pandemia”.
O escolhido pela atriz e pelo compositor foi Marcelo Pies, um estilista e figurinista de Niterói que já tinha confeccionado o fardão de seu marido, o poeta e ensaísta Antonio Cicero, empossado em março de 2018 na cadeira até então ocupada por Eduardo Portella. Pies cobrou R$ 30 mil para cada um dos recém-eleitos imortais, menos da metade do preço “oficial” praticado pelo alfaiate da ABL.