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18 anos de inclusão e muitos desafios pela frente

O Arte no Dique é um projeto surgido a partir de importantes parcerias, como as com o então Ministro da Cultura Gilberto Gil, cujo legado foi continuado igualmente por Juca Ferreira

Foto: PMS

Por José Virgílio Leal de Figueiredo*

Parece que foi ontem. Após décadas de atuação profissional nos setores público e privado, em minha terra natal, Salvador, um novo caminho surgia. Um caminho, que vim a entender depois, se tornou a missão da minha vida. Em 28 de novembro de 2002 era lançada e pedra fundamental no Arte no Dique. Um projeto surgido a partir de importantes parcerias, como as com o então Ministro da Cultura Gilberto Gil, cujo legado foi continuado igualmente por Juca Ferreira, Celio Turino, que nos apresentou ao projeto Pontos de Cultura e nos levou ao Scholas Occurrentes do Vaticano, o Deputado Fausto Figueira, o Instituto Elos e o Olodum. Eu, de família que sempre militou em prol do social, de uma sociedade mais justa, equilibrada, ganhava a oportunidades de tentar fazer a diferença na maior favela sobre palafitas do Brasil: o Dique da Vila Gilda, em Santos.

Sabia que não seria fácil. Num país com uma das maiores diferenças sociais do planeta, com uma das piores distribuições de renda, teríamos que dialogar com o Estado, em âmbitos municipal, estadual e federal, convencer empresários da importância do olhar social. Refletindo, em retrospectiva, entendi para o que havia sido treinado minha vida inteira. E colocar o projeto em prática só seria possível com o apoio de muita gente. Foi e tem sido assim. Continua não sendo fácil, mas chegar aos 18 anos atendendo diariamente mais de 600 famílias através de nossas oficinas, atividades formativas, eventos, tantos apoiadores importantes e o reconhecimento internacional, seguimos no caminho certo. Nada foi em vão. Os sacrifícios, os debates, o trabalho intenso.

Neste tempo, artistas da relevância de Moraes Moreira (nosso padrinho), Sergio Mamberti, Pepeu Gomes, Davi Moraes, Emicida, Fernandinho Beat BOX, Fabiana Coza, Jorge Mautner, Jair Oliveira, Walderez de Barros, Blaxtar, Armandinho Macedo, A Cor do Som (Dadi, Mú, Ari Dias, Armando e Gustavo), Wilson  Simoninha, Jair Oliveira, Geraldo Azevedo, Hamilton de Holanda, Sandra de Sá , Moreno Veloso,  José Gil, Charles Brow Jr., Gilmelândia, Luciano Calazans, Peu Meurray, Lecy Brandão, Nelson Jacobina, Mestre Marçal, Robertinho Silva, Ferrez, Alexandre de Maio, Luciano Quirino, Ondina Clais, Henrique Dantas, o paratleta Pauê, estiveram presentes na instituição, se apresentando, palestrando, inspirando pessoas. Não raras vezes abrindo mãos de seus cachês convencionais pois entendem o trabalho sério que realizamos. Sempre procuramos manter esse olhar para o mundo, entretanto sem abrir mão da arte regional, presente sempre em nossas atividades. Realizar intercâmbios e conexões é um dos nossos objetivos.

Por falar em intercâmbio, nos orgulha propiciar a crianças que dificilmente encontram alguma oportunidade, de realizar um intercâmbio anual em países europeus, onde elas podem se apresentar e estudar, além de conhecer o dia a dia local. Uma das missões do Arte no Dique é justamente gerar perspectivas, oportunidades, serviu de luz no fim do túnel. Dois de nossos ex-alunos hoje brilham em terras europeias: Jorge Henrique e Gabriel Prado.

Chega o fim do ano e acontece a Mostra Cultural Plínio Marcos. Sim, tanto essa mostra quanto o prédio onde funciona a ONG, levam o nome do grande dramaturgo santista. Alguém que entendia a alma dos marginalizados, dos excluídos. Não poderia ser outro a receber tal homenagem. Durante uma semana, os alunos apresentam obras e atividades resultantes das oficinas realizadas nos meses anteriores. A arte educa, transforma.

Em junho ocorre nosso arraial, mantendo as raízes da Festa de São João e fomentando a economia criativa das palafitas: quando famílias podem produzir quitutes e vende-los em barraquinhas disponibilizadas pela entidade.

São 18 anos e muitas lembranças. Passamos por momentos difíceis, de incertezas. Não incerteza quanto à continuidade do trabalho. Mas do mundo, do Brasil, das melhores maneiras de continuarmos em frente. Não raras vezes tivemos que “dar nó em pingo d’água”. Veio a pandemia e um ano completamente difícil, atípico, trágico. E mais uma vez uma lição: a necessidade de atuarmos em relação à saúde das pessoas. Saúde física e saúde mental.  Por isso, um dos projetos mais urgentes do Arte no Dique passa a ser um consultório que terá psiquiatras e psicólogos. Mais do que nunca devemos estar próximos à comunidade. Continuaremos a luta por melhorar as condições dos mais necessitados, gerar oportunidades, provocar soluções, apoiar políticas afirmativas, inclusivas para que tenhamos realmente um mundo mais justo e equilibrado.

A nós, do Arte no Dique, cabe agradecer aos parceiros, apoiadores, incentivadores, à imprensa que sempre nos deu espaço e, principalmente, ao Dique da Vila Gilda. Chegamos à maioridade e as responsabilidades aumentam. Evoé.

*Presidente do Instituto Arte no Dique

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