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CES denuncia fechamento do curso noturno de Arquitetura da UniSantos

Na avaliação da entidade e do DA da Faus, a decisão é “elitista” e vai provocar a desistência de inúmeros alunos, que trabalham durante o dia para pagar a mensalidade

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos (Faus) - Foto: Reprodução/Google

O Centro dos Estudantes de Santos (CES) se uniu ao diretório acadêmico (DA) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos (Faus) para denunciar o fechamento do curso noturno de Arquitetura. A medida foi tomada pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), que alegou questões orçamentárias.

Aline Cabral, presidenta do CES, criticou a medida tomada pela direção da universidade: “A gente compreende que, no atual momento político, a permanência dos estudantes nas instituições é um assunto muito delicado para ser tratado durante a pandemia do coronavírus”, diz.

“O fechamento de um curso durante essa crise implica em retirar uma parcela da universidade que tem nome e endereço. São os jovens que, em sua maioria, precisam trabalhar para conseguir pagar a mensalidade. Então, passam os períodos da manhã e tarde no trabalho para conseguir estudar à noite”, destaca a dirigente estudantil.

Assim que o diretório acadêmico da Faus entrou em contato com o CES, foi marcada uma Plenária geral dos estudantes da UniSantos.

“Especulava-se que outros cursos menores, que para eles geram menos lucro, como por exemplo, alguns da área de Humanas, que têm menos procura, poderiam estar ameaçados de fechar. Então, promovemos a Plenária para debater quais ações poderíamos fazer em conjunto para tentar mobilizar de alguma forma”, afirma Aline.

A presidenta do CES explica que a luta da entidade, no momento, é organizar, junto com os estudantes e com as entidades estudantis, como centros acadêmicos, diretórios e atléticas da UniSantos, uma série de ações.

“Primeiro, a gente vai providenciar uma notificação extraoficial, mandar um ofício para a universidade, solicitando uma justificativa mais plausível sobre o fechamento desse curso. Difícil imaginar que a razão seja dificuldades financeiras, pois a mensalidade do curso é R$ 2.222”, destaca Aline.

“Nós queremos estabelecer um tipo de Conselho entre a universidade e os estudantes. Hoje, a UniSantos não tem nenhum tipo de fórum deliberativo, onde os estudantes participem das decisões da universidade. Existe pouquíssimo diálogo”, prossegue.

A alternativa, segundo a presidenta do CES, está sendo propor esse fórum permanente de debates, com o objetivo de que os estudantes possam atuar em parâmetro de decisões que impactam diretamente, como por exemplo, a escolha do coordenador de curso, debater mudanças na grade curricular, alteração em horários das aulas, entre outras.

“Além disso, estamos fazendo em toda a Baixada Santista uma campanha pela abertura das planilhas de custos da universidade. Se for uma questão orçamentária, como eles alegam, isso precisa ficar provado para os estudantes”, acrescenta.

Ateliê da Faus – Foto: Carolina Terra

Elitização

Na avaliação de Carolina Gonçalves Mauro Terra, secretária do diretório acadêmico da Faus, a decisão da UniSantos elitiza ainda mais o curso, a faculdade e a universidade, dificultando o acesso ao ensino superior dos estudantes com menor poder aquisitivo.

“Por isso, o Diretório Acadêmico Michail Lieders é contra e repudia, veementemente, a extinção do curso noturno do 4º e 6º semestres, além do 1º e 2º semestres noturnos já extintos em 2020”, afirma Carolina.

Ela revela que o DA realizou uma pesquisa online junto aos estudantes, para detectar qual a opinião geral sobre a extinção do curso noturno.

Entre as respostas obtidas para a pergunta ‘O que você pensa sobre essa mudança?’, ela destaca uma, que traduz o sentimento dos alunos da Faus: “Desrespeitosa, no mínimo. A universidade demonstra mais uma vez que nós alunos não somos importantes, apenas números dos quais eles podem agir da forma que bem entendem; não nos colocam como ‘clientes’ que somos ao usar os seus serviços; não nos veem como pessoas que estão buscando um futuro; não respeitam nossas vidas, escolhas e necessidades; não cumprem sequer um contrato firmado entre as partes. Descaso, desrespeito, desinteresse… Desumano. Pessoas como eu terão que escolher entre trabalhar pelo seu sustento, passar por necessidades para seguir seu sonho de formação ou simplesmente trocar de universidade por ser excluído da instituição da qual escolheu para fazer parte de sua vida”.

Carolina conta que a instituição tomou a decisão de forma unilateral. “Não houve aviso oficial aos estudantes matriculados e ao diretório acadêmico. A coordenação do curso realizou uma reunião extraoficial às vésperas dos prazos de rematrícula para o segundo semestre de 2020, via Google Meet, para aviso da decisão de extinção”.

Desistências

Com base nos dados levantados pela própria coordenação do curso, 43,13% dos estudantes trabalham, pelo menos, no período da manhã. Por isso, avalia a secretária do DA, a medida de extinção do curso noturno inviabilizará a continuidade dos estudos de quase a metade dos entrevistados.

“Ou seja, todos os argumentos apresentados pela universidade são considerados insuficientes pelos estudantes. O diretório acadêmico tem buscado diálogo com a coordenação, direção e reitoria, porém, não houve resposta oficial”, acrescenta Carolina.

“Os estudantes deixam claro que só aceitarão a extinção do curso noturno, caso seja apresentada planilha orçamentária detalhada, comparada (anterior e durante a pandemia) e fidedigna ao curso, além de argumentos e avisos oficiais por parte da contratada”, completa a secretária do DA.

UniSantos

A professora doutora Mariangela Mendes Lomba Pinho, pró-reitora administrativa da UniSantos, diz que a universidade “não fechou o curso noturno, apenas duas turmas tiveram o período alterado”.

Em relação às causas da “alteração”, Mariangela afirma: “A decisão ocorreu em razão do aumento significativo de solicitações de bolsas, por conta das dificuldades financeiras das famílias, intensificadas com a pandemia de Covid-19. Por conta da mudança, foram oferecidas facilidades adicionais para o pagamento das mensalidades, como forma de reconhecimento do esforço e como forma de garantir a permanência do estudante na universidade”.

A pró-reitora administrativa da UniSantos nega que os alunos não tenham sido notificados decisão: “Todos os estudantes foram informados oficialmente, por meio do contato estabelecido pela coordenação do curso. Houve um diálogo com a coordenação, docentes e estudantes, ao final do semestre passado, para que fosse encontrada a melhor solução. Por isso, ocorreu a migração para o período matutino, e não o contrário”.

Em relação à reivindicação dos estudantes, no sentido de tomarem conhecimento da situação financeira da universidade, Mariangela afirma que “as planilhas de custo são disponibilizadas a todos os estudantes no início do semestre”.

Questionada sobre a informação do CES de que o curso noturno de Direito terá horários alterados, o que prejudicaria os estudantes que chegam à faculdade de ônibus fretado, ela responde: “Os ajustes nos horários noturnos foram justamente para auxiliar muitos estudantes que não conseguem ficar até o final das aulas em função da logística dos fretados. Sensibilizada com isso, a instituição realizou a adequação dos horários. Além disso, a medida garante mais segurança para todos estudantes, sem alteração da carga horária”, completa Mariangela.

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